VÍTIMAS DO DESENVOLVIMENTO


          A Articulação no Semiárido reconhece a importância da caatinga, onde são encontrados cerca de 900 tipos de animais e uma quantidade muito variada de plantas e árvores. “Apesar da aparência seca, é um terreno fértil, com árvores resistentes, que armazenam água para a própria sobrevivência, como o umbu, o mandacaru e várias outras”, diz Naidison Baptista, coordenador nacional da ASA. “Uma das coisas que a gente preza muito é a preservação da caatinga”, destaca, lembrando que o bioma vem sendo devastado por grandes projetos. “Nos últimos três anos, mais de 16 mil quilômetros quadrados do semiárido foram devastados pela agropecuária extensiva e pela produção de carvão para siderúrgicas”, denuncia.

          Naidison considera que o semiárido “é uma vítima secular desse processo de desenvolvimento”, que tem de um lado os grandes latifúndios e, de outro, parcelas minúsculas de terras para agricultores. Estudos científicos demonstram que o ideal é que cada criador de animais da região tivesse à disposição 200 hectares de terra. Hoje, as propriedades chegam a 4 hectares, quando muito.

         “É um processo predatório, de extrema concentração de terra e de extrema concentração de miséria”, diz Naidison. Uma estratégia útil de manutenção do coronelismo, do poder político das mesmas famílias, dos mesmos grupos hegemônicos e econômicos, “que se servem da pobreza, da miséria das pessoas para enriquecer”.

        Um modelo de desenvolvimento que se apoia no carro-pipa, nas frentes de trabalho. Desempregados no período das secas, os agricultores são recrutados para escavar açudes nas propriedades dos fazendeiros, que depois são cercados, impedindo as pessoas até de beber a água. “O problema do semiárido não é a seca; é a cerca, que cerca a terra e a água”.

fonte: Revista Radis

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