Nós somos aquilo que fazemos repetidamente.
Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.
(Aristóteles)
Historicamente temos notado que o homem preferiu dar maior atenção às normas religiosas e às normas jurídicas, desprezando as normas morais (uma das formas de consciência social). Em razão disso, temos gerado, desde então, seres com grande deficiência de caráter, imorais e evidentemente egoístas. Porém, quando estas pessoas chegarem à fase adulta o “mundo” lhes cobrará que ajam com moralidade, com ética, como se isso fosse algo da essência delas, mas que não é. Então, elas falharão e farão aquilo que deveria ser inequivocamente evitado, pondo, por conseguinte, o convívio social em decadência. E quando me refiro à consciência moral, não busco referência em alguém que precise ter o comportamento irrepreensível de um monge tibetano, e nem mesmo defendo o “falso moralismo”, que tudo inibe e condena. Mas, sim, naquele mediano, que requer, no mais das vezes, apenas o agir com bom senso para trazer a paz social.
Assim, temos visto muita gente atuando na ilegalidade, de forma até relativamente tranquila, sem grandes pudores, transformando as relações humanas em mero jogo de interesses, caracterizando a sociedade como a do “cada um por si”, o que tem alimentado uma forte impressão negativa quando pensamos em relação ao futuro da humanidade. E, diante deste quadro, não adianta culpar o sistema capitalista, dizendo que é ele quem corrompe. Nada disso! Estamos diante de erros humanos. Pois esse desequilíbrio, esse agir desconfiado (de tudo e de todos) é próprio dessa nossa conduta desmedida em perseguir afoitamente a obtenção dalgum conforto material imediato, na base, às vezes, do “custe o que custar”. Trata-se, pois, de uma questão educacional, que reflete, inclusive, na sensação de estarmos regredindo moralmente. Tudo isso, por sinal, repousa no fato de não estarmos conseguindo aliar a teoria (o que deve ser feito) à prática (o que efetivamente fazemos). Nisso a “ambição” tem conseguido suplantar a “moderação” em nossa maneira de agir, estando este comportamento cada vez mais manifesto.
Nesse sentido, certa vez o poeta Drummond disse que “necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição”. E essa é a mais pura realidade nossa: a eterna insatisfação, que nos impele a querer mais e mais, incessantemente. Além disso, tem sempre algo nos incomodando, seja a aparência, o salário, a idade, o corpo... Então, aproveitamos essa situação e a aliamos à ciência de que somos seres transitórios, para tentar talvez justificar esse nosso afobamento (que nos faz meter os pés pelas mãos), como se o tempo não nos permitisse planejar nossas ações. Mas acredite: não é porque o tempo é irrefreável que devemos crer que “os fins justificam os meios”. Aliás, muito cuidado! É justamente crendo nesta máxima que temos colhido esse distanciamento, cada vez maior, entre nós e a conduta moral.
Na verdade, é incompreensível essa nossa ingratidão com o mundo. Recebemo-lo praticamente livre para ser usufruído, cabendo-nos quase que apenas melhorar o que já existe. Não precisamos de grandes inventos em relação a alimentos, energia e transportes. Praticamente todas as doenças estão sob controle. Conhecemos teorias altamente benéficas em infinitas áreas do conhecimento humano as quais poderíamos estar lançando mão para o proveito de todos. Mas, curiosamente, temos fracassado terrivelmente em nossa missão, permitindo que o alicerce desta fundação relacional caminhe para o colapso.
Nossa negligência quanto à moralidade tem nos conduzido ao individualismo, à intolerância, aos vícios, etc., problemas esses já praticamente inseparáveis territorialmente nesse nosso mundo globalizado. E é inútil, ademais, atribuir às autoridades a responsabilidade por mal conduzirem essa nave global, já que as mudanças a que me refiro advem essencialmente de nós mesmos, no cerne familiar. Entretanto, nessa seara, o que temos visto hoje em dia nas famílias são crianças e jovens “abandonados” pelos pais, ao sabor das mídias, principalmente da televisão e das famigeradas redes sociais, reforçando esse desequilíbrio comportamental, onde já não há limite entre o que é “lazer” e o que é “dever”. Uma situação que tem tirado dessas pessoas o poder da crítica, da consciência de seu posicionamento e papel dentro da sociedade. Falta-lhes ânimo para instigar uns aos outros, pois estão velejando no mesmo barco furado desse enorme e sombrio mar de apatia, cegamente. Enquanto que, ao contrário, deveriam, sim, estar atuando em comunhão. Deveriam saber considerar a “comunidade” no seu sentido mais fundamental, de “comum unidade”; uns ajudando os outros, inclusive ideologicamente. O que já estaria acontecendo se as pessoas estivessem em harmonia e não em disputa.
Por isso, rever a maneira com que tratamos as normas morais é medida de extrema urgência, se quisermos sair desse caminho tortuoso em que estamos metidos. Já passou da hora de trabalhá-las com responsabilidade e orientação desde a mais tenra idade. À vista disso, não poderemos jamais ignorar que os políticos de hoje são as criancinhas e os jovens de ontem, e que se eles crescerem num país marcado pela ignorância de que levar vantagem desonestamente em cima dos outros é ato de esperteza e inteligência logicamente é o que farão no futuro. Portanto, para quebrar esse paradigma negativo, que se tornou um ciclo vicioso, somente através da educação, e que não deverá ser feita de qualquer forma, mas voltada ao aprimoramento moral.
Superado isso, o político educado moralmente, por exemplo, carregará consigo qualidades inabaláveis de honestidade, justiça, ética, etc., aprendidos ainda na infância e aprimorados na adolescência e na fase adulta, o que o fará portar-se respeitosamente antes os demais seres à sua volta. Ele saberá valorizar toda e qualquer profissão, sobretudo a do professor, pois consciente do valor deste para a formação e aprimoramento da sociedade. Assim sendo, é nosso dever, pois, primeiramente nos educar, buscando fontes seguras de informação, que estão espalhadas gratuitamente nas bibliotecas, na internet, dentre outros, e, concomitante a isso, propor mudanças nesse nosso modelo educacional, que tem se mostrado altamente superficial e, portanto, falho. Enfatizo: o mundo não necessita de meros decoradores de símbolos e textos, mas de pessoas educadas, conscientes do todo e participativas.
Deste modo, é preciso ter em mente que pessoas preparadas moralmente não se deixarão seduzir pelo dinheiro fácil (que não lhes pertence) ou por alguma vantagem que possa prejudicar os outros, nem tampouco - se puderem impedir - permitirão que a desonestidade se faça prevalecer, pois sabedoras de que “as outras pessoas prejudicadas” somos todos nós, indistintamente. Portanto, não há qualquer motivo para que nos mantenhamos omissos!
Luciano Caettano
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