BRASIL: CALÍGULA NOS INVEJARIA

                                                 cena de "Calígula - o filme" (1979).



          Já há algum tempo, aqui no sudeste, uma praga apocalíptica chamada “funk carioca” surgiu das entranhas das favelas do Rio de Janeiro e contagiou o país com seu ritmo tribalista e letras de duplo sentido. Um estilo que logo caiu nas graças do povo brasileiro, que, como se sabe, é um povo historicamente sem vergonha. E, claro, sendo o brasileiro como é, as letras de duplo sentido logo foram sumindo, dando lugar a outras realmente pornográficas, machistas, da mais pura baixaria e coreografias idem.

         Assim, o funk carioca mostrou-se ser, na realidade, uma grandiosa imundície sonora erotizada disfarçada de música; um grande insulto aos propósitos da arte musical, e que não é privilégio seu!, mas que acontece com outros estilos nacionais também, como o axé music, da Bahia, por exemplo, que explora o mesmo segmento. Estilos musicais que só são um sucesso porque tiveram a sorte de ter nascido no país da libidinagem, onde não importa a canção, mas o erotismo exaltado nas letras e suas coreografias. 



       Porém, na impossibilidade de filtrar o que chega aos ouvidos das nossas crianças ficam elas expostas a toda essa sujeira moral, disseminando-a. Certamente o que vemos hoje no comportamento dos brasileiros é fruto daquilo que vimos plantando. Isto é, continuamos sem vergonha; continuamos ainda distantes da espiritualidade e referendando a promiscuidade em sua plenitude.

       O mais lamentável é que nestes tempos de perdição a imoralidade passa a ser venerada. Os incautos invejam aqueles que levam uma vida regrada à promiscuidade, ao ponto de chamar-lhes de “mestres”. Veja o tipo de referência e o quão absurdo é isso! Não é à toa que nos mostremos pessimistas quanto ao futuro da humanidade; é difícil acreditar na nossa salvação por nós mesmos ante a essa realidade. Viver num país afamado pela lascívia de seu povo e que exalta qualquer porcaria sonora relacionada a isso, como é o caso da bola da vez, o “arrocha”, é por demais desanimador.

         Vivemos num país em que o governo, governado por imorais como o seu povo, tenta disfarçar a sua podridão social e humana ofertando a política do “pão e circo”, tal como acontecia na antiguidade clássica. No nosso caso, temos “cesta básica” básica e “futebol”, em que este (e as novelas) serve para tirar o foco dos problemas realmente importantes do país, como a miséria social, a corrupção, as altas taxas de impostos, etc. Além disso, o governo sabe que é preciso apresentar motivos que façam esse povo orgulhar-se de viver aqui. Logo, dizer que somos os “melhores do mundo” em alguma coisa ajuda muito nesse processo maquiativo. Como perdemos o status da hegemonia no futebol, estão tentando agora emplacar no nosso “circo” as lutas do tipo “vale-tudo”, em que os brasileiros tem se despontado no cenário mundial.

        Veja que governo mais atencioso este nosso. Que orgulho dizer que um brasileiro é o “melhor do mundo” em socar e chutar outro ser humano, não? Esse deve ser o nosso auge evolutivo! Agora iremos nos reunir não para falarmos de política, de educação, ou dessas coisas inúteis que não levam a nada, mas sim, de lutas! De combates! E de preferência num bar, tomando aquela "cervejinha gelada" e, no caso dos homens, reparando os peitos e as bundas ali presentes das vulgarmente chamadas “mulheres”.

        Esse é o nosso país! Esse é o nosso povo! Brasil! Desse jeito é muito fácil ser patriota! Que país abençoado: o país da promiscuidade, da cerveja, do futebol e, agora, do vale-tudo! Calígula certamente nos invejaria!... Vida longa ao povo sem vergonha!

Luciano Caettano



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