A EDUCAÇÃO QUE CONTAGIA


                Passei o réveillon último (2014/2015) com a família de minha namorada em Torres, no Rio Grande do Sul. Antes, porém, de irmos para lá, estadiamos na cidade onde meu cunhado faz faculdade, em Santo Antônio da Patrulha. Estivemos em algumas cidades ali dos arredores, às vezes nem tão próximas assim de Santo Antônio, como na litorânea Tramandaí e na capital Porto Alegre. Mas os lugares que eu mais gostei de conhecer foram as cidades da região das hortênsias, na serra gaúcha: Gramado e Canela, duas referências no turismo nacional, como não poderia deixar de ser.

                Na rodovia ainda, antes de chegarmos em Gramado, somos agraciados pela vista exuberante de paredões de flores (hortênsias), que ornamentam os dois lados da pista. Os veículos até diminuem a velocidade para poder apreciar aquela beleza sem igual. A gente segue serra acima e, mais a frente, nos deparamos com o estiloso pórtico (entrada) da cidade, que nos remete à arquitetura européia, o que já nos cria uma boa expectativa do que viria pela frente.

                Era 30 de dezembro, então a decoração natalina ainda estava intacta. Era o próprio clima de natal presente, com suas decorações coloridas, papais noéis de todos os tipos e muita magia. Das decorações no chão aos detalhes nos topos das lojas, tudo muito caprichado. Tanto que se eu fosse fotografar tudo o que era bonito ficaria só por conta disso. Diante de tal experiência, eu só podia pensar no privilégio que era poder estar ali e vivenciar tudo aquilo.

                No centro da cidade, que é onde estavam concentradas as lojas e as decorações, a gente não via um papelzinho de bala sequer nas ruas. Era tudo muito limpo e asseado. Não vi nenhum animal abandonado, nem andarilhos, nem crianças de rua pedindo esmola. A despeito disso, não conheço a política social de Gramado, nem mesmo os bastidores deste controle. Entretanto, a julgar pelo bom comportamento das pessoas com quem me deparei por lá, eu só posso presumir que há, efetivamente, algum tipo de assistencialismo público que evita a eclosão de tais mazelas no local.

                Então, para justificar o título deste artigo, de tudo que vivenciei em Gramado, eu preciso enfatizar algo que me surpreendeu bastante: a educação do povo. Gramado é daqueles lugares que você vai atravessar a rua e os motoristas param para você seguir. Não há correria, não há medo de ser atropelado, não há xingamentos no trânsito, nem buzinação, e nem carros de som automotivo nos obrigando a ouvir o que não queremos! Não tem estresse! O trânsito flui com leveza. E funciona tão bem que, me desculpe a franqueza, nem parece o Brasil.

                É positivamente chocante caminhar num lugar onde o pedestre tem sempre a preferência! Eu, um mineiro acostumado a ter que correr quando o sinal ainda está verde para mim, para evitar acidente, confesso que andava meio desconfiado de tanta gentileza. “Será que esse carro vai mesmo parar pra mim?”, me perguntava. E ele parava. Todos paravam! Até mesmo os dos turistas. Por que será? O que estava acontecendo ali?

                Foi então que me veio um insight: paravam porque a educação contagia. Assim como somos contagiados pela má-educação no trânsito aqui do sudeste, por exemplo, também podemos sê-lo pela (boa) educação daquele lugar. Um motorista que vê nove em dez carros pararem para um pedestre passar se sente impelido a fazer o mesmo. E se isso acontece no dia-a-dia, pronto, criamos um hábito. Lá é assim, eles tem o hábito de respeitar o pedestre. Já aqui nós temos o (infeliz) hábito de dar preferência aos veículos.

                Quero dizer com tudo isso que é possível criarmos bons hábitos em outras partes do Brasil. Precisamos valorizar a educação escolar sem menosprezar a educação das boas maneiras, para que esta contagie e se torne um hábito. Isso é possível. Gramado/RS está lá de prova. Quiçá todo brasileiro pudesse visitá-la para sentir a paz de espírito que dá poder transitar em um lugar seguro e ordeiro. Para que tenhamos uma convivência salutar é preciso que haja uma mudança na mentalidade do brasileiro contagiado pela má-educação. Eu voltei cheio de esperança! Avante Brasil!


Luciano Caettano
(advogado e funcionário público)

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